Upgrading!

Vou tomar estes últimos dias de canto para aborrecer o meu mal-humor genético e esgotar essa intranquilidade que as expectativas de sempre recriam. Depois, sob as influências do novo tempo, eu começaria desejando a todos um ano farto, ácido, menos rápido e incomum.
A acidez deve promover a quebra do que adoça em demasia e os elogios padronizados, – pra mim chega de aromatizantes e sabores idênticos, o açúcar é uma farsa e a candura merece cuidado – e de comum eu não desejo mais nada, além da gordura que eu admito gostar, nem para mim e nem para os meus inimigos. Jesus disse, “ame o teu inimigo...” Mas eu prefiro esquece-los antes de anuí-los em meu percurso, graças a deus!
Ficou faltando a fartura, que é o que nos sobra. Então escolhamos, cada um, o que desejamos ter faltando, algo que ainda nos conforte, depois decidimos se vendemos ou se doamos. A saúde se produz com dedicação e nunca sobra. Um ano mais lento, talvez de mim tirasse a impressão de que o próximo ano acabará em novembro. Sob o efeito das frequências que já vêm mudando, eu imagino desde agora, a cartografia de verdades e atrevimentos que poderemos acessar, se conscientes.


Quero partilhar e usufruir as sortes que chegarão logo, os projetos que ainda não fiz, o poder da antecipação, a dinâmica capitalista dos pontos, a capacidade de ser grato que ainda não tenho, a pichação, as pencas de frutas orgânicas e a intuição. Quero lembrar-me sempre em tempo, que a inspiração salva, evita os sulcos e revigora as células, mesmo as mais carentes. Esta é uma dádiva e não mais um segredo que propago com humildade e um tanto de risco.
Entre outras modulações possíveis, eu estarei apto para desnutrir a persuasão ao consumo – pobre publicidade, me terá como cúmplice ainda por algum tempo, sabe deus até quando meu consolo irregular estará baseado nesta ocupação – Atividade! Gritam as ondas transcorrendo as sinapses, apressadas e atordoadas – influência da minha estada no Boréu, reativada em Tropa de Elite –.
A despeito da desnutrição planejada, continuarei adquirindo todo o supérfluo em quase equilíbrio, como um comunista dissidente pendulando entre tendências estimulantes e reais necessidades. Mas também produzirei algumas alegrias e exemplos sortidos de amor e de adequação `a vida num planeta que definha na medida das queimas e do uso caduco.

I upgraded! E posso ativar o dispositivo de respiração consciente durante os períodos de tristeza, não me atolo mais nessa falha do sistema, e agora nesta versão, posso expirar e desatar os ninhos após a convulsão – Assim subverto a regrinha dos caroços. A doença é a purificação do corpo, disse Meishu Sama, e os remédios são apenas uma contemporização da causa, o efeito é lucroso para a indústria farmacêutica e incrementa a base do poder. Assim incorre desde a escola de Cós. Portanto, espero que usufruam todos de boa memória e que esqueçam numa lufada as verdades de glacê que fingem crer, bem como eu ceguei vidrado num telejornal. Livrem-se do estado de rebanho e das garrafas, o que vale é a mensagem que está no interior! Ah! E, talvez o mais precioso intento, prometi em plena passagem, enquanto iam pelos ares aqueles fogos de pigmentos acesos, que engolirei apenas os sapos de possível digestão, e as toxinas serão expurgadas naturalmente, sem que eu precise dar ordens repetitivas aos meus instrumentos, eles já as reconhecem desde sempre. Então, peço só os meus olhos vivos pra ver refletidos sadios os meus corpos em suas cores e luzes particulares. E assim persistirei contrariando o que se espera, pois os anos passam e, a cada ano, mais lestos e desgovernáveis tudo se aprimora.
Prefiro ater-me em governar o meu corpo e de observar-me presente e de arremessar as bitucas no lugar certo, pois elas perduram centenas de anos contaminando a terra e as gentes. isso, caso eu esqueça o valor da minha promessa de deixar o fumo.


Alexandre Casagrande