Do homem e da estrada

Neste tempo e aqui se apresenta a ti o fim. Inevitável e pressuposto como uma nova estrada em luz, com os medos dos tantos que velam a tua carne nesse silêncio e alívio.
Desejastes, eu sei, outro corpo para viver mais, pois este que te ensinaste a educar as orquídeas e a encantar as crianças já não lhe inspirava, e sucumbiu no último suspiro. Mas, sempre haverá últimos suspiros e estes últimos virão antes dos primeiros a suspirar em tantos corpos teus ainda.
Essa carne te serviu justa em tempos de eletrecidade abundante e agora será partida entre os dedicados vermes. Mas daqui a seguir tú estarás em tudo como nunca antes. Não porque antes não foste, mas porque agora está sacramentada a franca impressão de que és vós, em todas as frequências, um homem exemplar.
Tú estarás vivo e diuturnizado por tua complacência e respeito pelos seres todos; Nos filhos do teu meio irmão, na foto com o colega do Lapeaninho F.C., no broto da tua última orquídea que ainda romperá a terra úmida, pois alcançará, por certo, a quentura e o astro. E este astro que te cega já está em vós desde o princípio, onde está também o fim. Assim como na vida está a morte a esperar pacientemente por toda a vida, e no homem está a água de todos os olhos e as chuvas dos últimos dias. Assim como em ti está o Deus todo e todo o amor, e um desamor próprio dos diabos.
Não te aflijas com o que está a conduzir-te, porque nos teus olhos gelados e cobertos está refletida a presença divina e todo o entusiasmo e a devoção dos teus entes, e entre estes estás vós, vivo como sempre.

Alexandre Casagrande

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